Flexibilidade não é um benefício: é cultura

Gi CFO

Artigo por Gisele Schafhauser, CFO da Versi

Fui a primeira funcionária da Versi, quando a empresa estava apenas começando. Quando entrei, éramos dois tocando a operação: eu e um dos fundadores. Não havia estrutura, nem uma estratégia pensada para os perfis de contratação. Mesmo assim, ao longo do tempo, o time foi crescendo — e a presença feminina também. De forma natural, sem imposições ou metas. E foi aí que percebi algo poderoso: quando um ambiente é seguro, a inclusão floresce.

A pauta da inclusão, frequentemente, é tratada como um esforço isolado ou um plano estratégico de marca empregadora. Mas, na prática, o que realmente sustenta equipes saudáveis é a existência de relações de trabalho baseadas na escuta sincera, na confiança e na flexibilidade. Não como benefício, mas como parte da cultura. Essa é a diferença entre permitir e acolher.

Em muitos ambientes corporativos, especialmente em setores historicamente masculinos como a construção civil e o financeiro, em que atuamos, mulheres ainda enfrentam obstáculos invisíveis. E não estou falando apenas de barreiras à ascensão profissional — mas de micro pressões diárias: justificar atrasos, pedir permissão para ir ao médico, explicar por que saiu mais cedo. Em estruturas rígidas, o tempo é vigiado, mas o bem-estar é ignorado.

A flexibilidade, nesse contexto, é revolucionária. Permitir que uma pessoa organize sua rotina com autonomia é uma forma de dizer: “eu confio em você”. E essa confiança, para mulheres que acumulam múltiplos papéis — profissionais, mães, cuidadoras — é determinante. Não só para permanecerem nas empresas, mas para prosperarem nelas.

Falo com conhecimento de causa. Me tornei mãe já ocupando um cargo de liderança. Não tive que brigar por espaço, nem por um plano de retorno. Tive liberdade para decidir como seria esse processo — e, no meio dele, fui reconhecida como sócia. Amamentei minha filha até os dois anos, participei de reuniões com ela no colo, reorganizei agendas e pedi ajuda quando precisei. Em nenhum momento, isso foi visto como fraqueza ou desvio de foco. Foi entendido como parte da vida. Como deveria ser.

A maternidade me transformou. Aprendi a ser mais paciente, a priorizar melhor, a relativizar o que antes parecia urgente. Me tornei uma líder mais empática e madura — habilidades que nenhum curso ou MBA conseguiria desenvolver com tamanha profundidade e rapidez. É por isso que me assusta ver como, ainda hoje, muitas mulheres adiam ou abandonam a maternidade com medo de perder espaço. Empresas que não enxergam esse valor estão perdendo uma potência enorme de desenvolvimento humano.

Flexibilidade e escuta caminham juntas. Não se trata de deixar “cada um fazer o que quer”, mas de reconhecer que cada pessoa vive realidades diferentes. E isso exige maturidade organizacional. É por isso que tantas mulheres, quando encontram esse tipo de ambiente, decidem ficar. E mais do que isso: trazem outras com elas. Porque onde há segurança, há pertencimento. E onde há pertencimento, há potência.

Não existe fórmula mágica. O que existe é a disposição de olhar para o outro com verdade. Flexibilidade, no fundo, é só a superfície. O que a sustenta é a coragem de conversar com transparência, de admitir que nem sempre está tudo bem e de ajustar o caminho quando necessário. Ambientes assim não se constroem da noite para o dia, mas são eles que vão moldar o futuro do trabalho.

 

Artigo publicado em HSM Management

 


 

Contato para imprensa:
Lucas Paraizo – Dialetto
E-mail: lucas.paraizo@dialetto.com.br

Compartilhar

squad
bfs
incsights
gsrisk
uni
smart